A gente não pode negar que a classificação NOVA foi um avanço importante na forma como entendemos e comunicamos a alimentação. Ela organizou os alimentos de acordo com o grau e a finalidade do processamento, ajudando a enxergar vários detalhes que antes passavam despercebidos, como a diferença entre um alimento minimamente processado e um ultraprocessado, o impacto dos aditivos e o papel das formulações industriais na nossa saúde e no ambiente.
Mas precisamos combinar que a NOVA não dá conta de tudo. Ela foi criada com o propósito de traduzir conceitos complexos para o público geral — e, por isso, nem sempre contempla nuances importantes, como a qualidade nutricional individual dos ingredientes, o contexto de consumo ou os avanços tecnológicos que tornam alguns processamentos benéficos. Diversos pesquisadores vêm apontando que o termo ~ultraprocessado~ é amplo demais e pode reunir produtos muito distintos em um mesmo grupo.
Por isso é papel da nutrição não só explicar os conceitos da NOVA para as pessoas, mas também mostrar que nem sempre o problema está no processamento, e sim no propósito. Alguns alimentos precisam de tecnologia para existir e isso não os torna piores. Um ~leite~ de aveia, por exemplo, passa por um processo que transforma o grão em uma bebida estável, nutritiva e acessível, sem adição de ingredientes impróprios (no caso da marca que começa com Nu e termina com De).
Esse processamento atende quem tem intolerâncias, alergias ou quem busca uma alternativa a ~aquele outro leite~, facilitando então, o consumo e a distribuição para os que querem e precisam. O produto não substitui o alimento — ele transporta, amplia e possibilita o consumo através da tecnologia.
A forma mais simples de começar essa nutri-educação é iniciar pelo básico: checar a lista de ingredientes. Uma longa relação cheia de nomes que soam estranhos ou que não estariam em uma cozinha doméstica sinaliza distância da comida de verdade. Já uma lista curta, legível e familiar – feita de palavras que qualquer pessoa compreende – é um bom sinal.
Mas entender como os processamentos são feitos também é importante, além de observar o contexto em que cada alimento se encaixa: Ele atende a uma necessidade real? Ele serve de base para uma alimentação saudável? Ele pode ser incorporado com facilidade numa rotina nutricionalmente positiva?
Essas perguntas (e respostas!) são essenciais, jé que pesquisas recentes reforçam que tratar todos os ultraprocessados da mesma forma pode distorcer o debate e gerar terrorismo nutricional. Há tecnologias que servem à conveniência, mas há também aquelas que preservam nutrientes, reduzem desperdício e tornam o acesso à alimentação sustentável mais viável.
É o que alguns autores chamam de ~tecnologia do bem~: quando o processamento é meio, e não fim, quando simplifica em vez de mascarar algo nem tão bom assim.
O que é preciso aprender e entender é que nem todo processamento é artificialidade, e que ler e entender a lista de ingredientes é o gesto mais prático e educativo que se pode ter à mesa. A pergunta não é se o alimento é processado, mas o que sobra dele depois: nutrientes, clareza & propósito — ou apenas aditivos e promessas.
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